Muito se tem falado das redes sociais, do rápido crescimento e mercado alcançados, do polêmico uso das mídias sociais internamente pelas empresas, mas será que já visualizamos realmente as vantagens competitivas no uso deste tipo de ferramenta? Ou conhecemos parte do imenso campo de pesquisas já realizada na área? Em uma de minhas palestras, divulguei dados importantes citados em um livro de Albert Barabasi, chamado Linked, recentemente traduzido para o português.
Todos os jornais, revistas, imprensa em geral não param de comentar o assunto do enorme crescimento das mídias sociais como Facebook, Twitter entre muitas outras. Mas será que todos nós conhecemos a complexidade de nosso comportamento em redes sociais? Será que entendemos a dimensão da ciência envolvida neste processo?
O estudo das redes bem é antigo, bem antes do nascimento da internet, e ainda hoje pouco se conhece dele. Entender a lógica do comportamento parece ser uma missão impossível, a princípio é necessário entender a dimensão e complexidade dos mundos onde tudo pode estar conectado. Muitos pesquisadores vêm estudando o fenômeno do comportamento em redes, e vamos aprender algo de novo com eles. No final deste artigo indico alguns livros para vocês.
Segundo Albert Barabási, de alguma maneira nós estamos conectados uns aos outros. Existe sempre um elo comum entre nós, seja a cidade, país onde vivemos, as pessoas que já encontramos, conhecemos ou contatamos em algum lugar, seja real ou pela internet. As redes estão em toda parte. Muitos eventos e fenômenos estão conectados de alguma maneira e se interagem por uma série complexa de comportamentos sociais. Percebemos que tudo se relaciona a tudo, e isso pode nos afetar de alguma maneira.
Muito antes do fenômeno das mídias sociais como Twitter e Facebook já se tentava mapear como a dinâmica de nosso comportamento em redes se procedia. Em uma Rede Social, consideramos cada indivíduo como um “nó” e nossas relações pessoais como “links”. Compreender como as redes realmente funcionam podem gerar várias idéias e inovações, seja nos negócios, na formação de mercados, antecipação de comportamentos de compra, padrões comportamentais internos numa empresa e etc.
Será que existem modelos matemáticos capazes de explicar e demonstrar as conexões ou relações pessoais que podemos ter em nossa vida? Ou modelos matemáticos capazes de prever o sucesso de uma ou outra campanha de marketing por redes sociais? Será que existem modelos capazes de expor as deficiências ou vantagens no uso da tecnologia de redes sociais nas empresas?
No livro Linked, nós percebemos que estamos apenas visualizando a ponta do iceberg no estudo das redes sociais e o tremendo impacto que isso pode causar em nossas vidas. O estudo dos modelos matemáticos que descrevem as redes sociais é mais antigo do que se pensa. Tudo começou com a teoria dos grafos proposta há cerca de 300 anos atrás por Leonard Euler (veja na figura).

Pontes de Konigsberg
Ele inventou a teoria matemática dos grafos ao substituir cada uma das quatro faixas de terra por nós (A a D) e cada ponte (a a g) por links, obtendo um grafo formado por quatro nós e sete links. A partir do grafo das pontes de Konigsberg, ele provou que não havia uma rota que cruzasse cada link apenas uma vez. Era necessário inserir de pelo mais um link (uma ponte) para tornar possível esta solução. Embora esse modelo seja bem antigo, ele foi a base para os estudos mais recentes na área.
Cada rede possui sua própria dinâmica, seu próprio comportamento, mas a primeira tentativa para descrever esses diferentes sistemas foi proposta muitos anos atrás por Paul Erdós e Albert Rényi. Eles encararam o desafio de propor uma formulação matemática para descrever todos os grafos complexos em um único esquema, o chamado “mundo randômico”.

Mas será que tendemos sempre a formar ligações da mesma maneira? Quantas ligações tendemos a fazer em nossas vidas? Ou quantas ligações nós estamos de cada um de nós? Um professor de Harvard chamado Stanley Milgram, em 1967, celebrizou o famoso conceito de nossa interconectividade, estabelecendo que estamos 6 graus de separação um dos outros. Ele enviou centenas de cartas aleatoriamente para moradores de 2 cidades nos EUA pedindo que eles participassem de uma pesquisa, sem custo algum. Na carta havia foto, nome e endereço de uma pessoa, um professor da universidade de Harvard. Se eles o conhecessem deveriam enviar a carta diretamente para ele, caso contrário deveriam enviá-la para uma pessoa que conhecessem pelo primeiro nome, que talvez pudesse conhecê-la, e anotasse seu nome no final de uma das folhas, para que a pesquisa pudesse levantar quantas pessoas (links) esta carta passou. O resultado da pesquisa foi 5,5, onde mais de 25% das cartas chegaram ao seu destino.
A pesquisa comprovou que já na década de 60 vivíamos nos chamados "mundos pequenos". E em mundos pequenos os elos fracos vão desempenhar papel crucial. Mas isso foi antes do fenômeno da internet. E qual seria o tamanho de nossa interconectividade nos dias de hoje? Para obter esta resposta seria preciso primeiro medir o tamanho da web. Quantos documentos existiam? Coube a Steve Lawrence e Lee Giles levantar que possuíamos cerca de um bilhão de documentos, em 1999. Mas e qual a distância entre eles? Quantos links estão um de outro?
Albert Barabási, Réka Albert e Hawoong Jeong, no departamento de física da Universidade de Notre Dame iniciaram os estudos para justamente medir isso. Foi preciso montar um robô, semelhante ao utilizado pelo Google ou Yahoo, mas mesmo assim, seria impossível medir isso globalmente, poderia levar muitos anos para medir toda a internet, imagina na escala de crescimento atual, seria praticamente impossível, até mesmo porque não seria possível acessar alguns deles. Por isso fizeram pesquisas com segmentos da internet e estabeleceram um valor estatístico médio que cada documento, em média, se encontra a 19 cliques um do outro.
As duas pesquisas comprovaram que vivemos em mundos muito pequenos, mesmo a última pesquisa não considerou o uso das mídias sociais. E hoje, o que eram 6 graus de separação, podem ser três, com o fenômeno da internet e mídias sociais. O que eram 19 graus entre os documentos, anos atrás, agora podem ser bem menos.
O "mundo randômico" de Paul Erdós e Albert Rényi caiu por terra com a teoria dos conectores. Os conectores são pessoas que possuem um alto grau de conexões, um desejo nato de fazer amigos, contatos, seja por carisma, por facilidade de comunicação e etc. Todos conhecemos um conector, ou digamos, uma pessoa popular. Os conectores são muito importantes em nossa rede social. Eles criam tendências e modas, fazem contatos importantes, e espalham novidades e até ajudam a impulsionar um negócio. Eles estão presentes em diversos sistemas complexos. Na internet os conectores são conhecidos como “Hubs”. Podemos citar o Google como um exemplo de Hub. A “clusterização” e os conectores derrubaram a visão randômica de Erdos e Rényi e nos mostraram que ainda estamos iniciando a busca de modelos que consigam descrever as diversas redes, em um mundo complexo.
Mesmo ainda com nossa visão limitada dos mundos complexos, já podemos, em menor escala, dimensionar ou antecipar algumas tendências e comportamentos benéficos ou maléficos internamente em uma empresa ou pocionar a empresa de forma a se beneficiar de uma estratégia empreendedora baseada na visão de redes. E este será o tema seguinte deste artigo, disponível a partir da semana que vem. Aproveite para conhecer detalhes de minha palestra sobre este tema.
Bibliografia:
- Barabási, Albert László, Linked – A nova ciência nos networks. 1ª edição. São Paulo: Editora Leopardo, 2009.
- Goossen, Richard J. – E-empreendedor, a força das redes sociais para alavancar seus negócios e identificar oportunidades. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2009.
- Cross, Rob e Robert J.Thomas – Redes Sociais, como empresários e executivos de vanguarda as utilizam para obtenção de resultados. São Paulo: Editora Gente, 2009.
Por Márdel Vinicius de Faria Cardoso: tem 44 anos. É Bacharel em Ciência da Computação pela PUC-MG. Pós-Graduado no MIT-Master Information Tecnology pela FIAP-SP. Tem mais de 23 anos de experiência em informática, 15 ano dedicados a projetos web, de analista, gerente a executivo. Foi palestrante em vários eventos e articulista em revistas, jornais e portais pelo Brasil. Diretor e fundador do Portal B2b Mercosul Search, criado em 1996 e Top 5 no IBEST 2001 a 2003. Foi professor de Linguagens para Web e E-Marketing da Fasp/Ceinter, Eniac e Fiap e hoje leciona Gestão de Projetos na Uninove em São Paulo. Autor dos livros “Desenvolvimento Web para o Ensino Superior” pela Axcel Books do Brasil em 2004 e “Programação Web para o Ensino Superior” pelo Clube dos Autores e “A Um Passo de Mim” em 2009.