quarta-feira, 1 de maio de 2013

A média de público e o tamanho das arenas


A Mania de Grandeza brasileira não deve se refletir nas arenas.
A Arenaplan divulgou nesta última semana um relatório (Novas Arenas dos Clubes após a copa)sobre as possíveis novas arenas que os clubes brasileiros podem construir. Este relatório comparou as médias de público de 10 clubes durante o período de 1971 a 2012. Se vocês observarem rapidamente pode parecer que o Flamengo, líder da pesquisa, e líder na média de público, com mais de 27 mil torcedores anuais poderia, pensar em ter uma grande arena própria. Porém a pesquisa também revelou a realidade. O próprio Flamengo teve uma enorme queda em sua média de público a partir da década de 90. Esta queda tem vários motivos, incluindo aumento da violência, falta de conforto e segurança, competição com outros meios de entretenimento entre muitos outros. Estes fatores também influenciaram outros clubes. E não será apenas com uma simples melhora no conforto nos estádios que vamos melhorar estes índices.
A Europa e EUA estão 20 anos adiantados em relação ao Brasil, em relação à relacionamento com o torcedor. Não é somente na tecnologia dentro dos estádios. Mas o tratamento do torcedor como cliente. Este tratamento começa por segmentar o público alvo, o torcedor, em vários perfis diferentes, indo do nível de renda aos perfis de consumo. O Manchester City dividiu seus torcedores em 38 perfis e trabalha fortemente cada um deles, oferecendo produtos e serviços fortemente aliados com seus gostos e renda.
Ao analisarmos os números de média de público fica claro que, o brasileiro só enche o estádio quando seu time está indo bem. E isso não vai acontecer sempre. O clube precisa entender que o estádio deve estar cheio mesmo o clube estando perto da zona de rebaixamento. Vejam que na Alemanha os estádios estão cheios na primeira e segunda divisão.
O Flamengo não pode mais depender de um time fantástico para obter novamente 37 mil de media de público (Média da década de 70 e 80). Da mesma maneira o Atlético-MG recuperar sua média da década de 70 de 26 mil torcedores por jogo. Estas médias não podem ser somente para um ano. O Flamengo obteve em 1980 a média recorde de 66 mil por jogo. O Atlético-MG obteve em 1977 de 55 mil pessoas. Isso talvez se repita no futuro. Mas o Brasil mudou drasticamente desde então. E o negócio do futebol também.
E por isso estes clubes devem pensar primeiro em recuperar 20 anos de atraso na gestão dos clientes, ou seja, dos torcedores. Quando estes clubes estiverem tendo, médias de público de cerca de 80% dos estádios em todos os jogos, eles poderão pensar em ampliar suasarenas ou até em construir novas arenas, fato muito comum nos EUA.
É por isso que o Flamengo não pode pensar em uma nova arena acima de 50 mil pessoas. O Atlético-MG em uma arena acima de 45 mil lugares. O custo de operação é altíssimo. Uma arena precisa ter no mínimo 50 a 100 profissionais, dependendo do tamanho, para manter tudo funcionando. Um estádio é como um shopping center. E da mesma maneira tem custos altíssimos para operar. Agora imagine que um estádio, além da operação, precisa realizar vários eventos para gerar renda. É por isso que o volume de profissionais tem que ser alto.
Por isso que o Santos, Goiás e Figueirense não deveriam pensar em arenas acima de 25 mil lugares. O Ceará fechou contrato com a Arena Castelão, mas de apenas 5 anos. Eles podem pensar em construir um estádio no mesmo tamanho. Já o Fluminense deve pensar no máximo em um estádio para 30 mil assentos. Mas não seria ruim pensar em uma arena de 25 mil lugares. Lembrem de como o Independência tem sido bom para o Atlético-MG, mesmo com apenas 25 mil lugares. A diferença está no volume de camarotes. É preciso ter muitos deles. É deles que saem a principal fonte de renda. E no Independência só tem 18 deles.
Precisamos colocar os pés no chão. O futebol brasileiro está muito atrasado. Precisamos começar a  trabalhar sério. A mania de grandeza brasileira não deve se refletir nas arenas. Vamos lotar primeiro as novas arenas que já foram construídas e que serão no futuro. Só assim poderemos pensar grande novamente.

Por Márdel Cardoso, gerente de projetos/gerente de tecnologia. Bacharel em Ciência da Computação pela PUC-MG, MIT-Master Information Tecnology pela Fiap-SP, Marketing Esportivo pela Uniara, Gestor de Arenas Multiuso pela Trevisan-SP.